Leituras: Jl 2,12-18; Sl 50; 2Cor 5,20–6,2 Evangelho: Mt 6,1-6.16-18
Santos Padres:
1) São Leão Magno, papa e doutor da Igreja (séc. V) Tratado 48 (CCL 138A, 279-280)
“Todo o corpo da Igreja deve estar purificado de qualquer tipo de corrupção”
Caríssimos! Entre todos os dias que a devoção cristã celebra com especiais demonstrações de honra, nenhum é tão excelente como a festividade pascal, que consagra na Igreja de Deus a dignidade de todas as demais solenidades. Na realidade, até a própria geração materna do Senhor está orientada para este sacramento, e o Filho de Deus não teve outra razão de nascer, a não ser de poder ser crucificado. De fato, no seio da Virgem foi assumida uma carne mortal; nesta carne mortal finalizou-se a economia da paixão; e, por um desígnio inefável da misericórdia de Deus, converteu-se em sacrifício de redenção, em abolição do pecado e em primícias da ressurreição para a vida eterna. E se considerarmos o que o mundo inteiro recebeu pela cruz do Senhor, reconheceremos que para celebrar o dia da Páscoa com razão nos preparamos com um jejum de quarenta dias, a fim de poder participar dignamente nos divinos mistérios.
Pois não só os supremos pastores ou os sacerdotes de segunda dignidade, nem somente os ministros dos sacramentos, mas todo o corpo da Igreja e a universalidade dos fiéis hão de estar purificados de qualquer tipo de corrupção, para que o templo de Deus, que tem como fundamento o próprio fundador, seja magnífico em todas as suas pedras e luminoso em todas as suas partes. Porque se é sensato que se enfeite com toda classe de adornos as mansões dos reis e os palácios dos supremos hierarcas – de maneira que possuem moradas mais suntuosas aqueles que estão em posse de maiores méritos –, com que dedicação não haverá de edificar e com quanto primor não convirá decorar a mansão da própria deidade! Mansão que mesmo que não possa iniciar-se nem consumar-se sem a participação de seu autor, exige, entretanto, a colaboração de quem a constrói, participando com a própria fadiga em sua edificação.
O material utilizado na construção deste templo é um material vivo e racional, que o espírito da graça estimula para que voluntariamente se coadune em um todo compacto. Este material é amado e buscado, para que por sua vez busque o que não buscava e ame o que não amava, de acordo com o que diz o apóstolo São João: Nós devemos amar-nos uns aos outros, porque Deus nos amou primeiro. Formando, pois, os fiéis, de forma geral ou singularmente considerados, um único e mesmo templo de Deus, este deve ser perfeito na singularidade de seus membros como o é na universalidade. E embora a beleza dos membros não seja idêntica, nem é possível a igualdade dos méritos – dada a variedade das partes –, contudo, a caridade unificadora consegue uma harmoniosa comunhão. Pois os que estão vinculados por um santo amor, mesmo quando nem todos participem dos mesmos benefícios da graça, todavia, todos se alegram mutuamente de seus bens, e não pode ser-lhes estranho nada do que amam, porque redunda em próprio enriquecimento a alegria que experimentam no progresso alheio.
2) Santo Efrém, diácono e doutor da Igreja (séc. IV)
Hino De Ecclesia II,1-10
1. Quem será bastante paciente
como para narrar
tua paciência,
que tem que suportar nossas culpas?
Quando pecamos, estamos cheios
de iniquidade;
e quando realizamos o bem, cheios
de orgulho
2. Somos uns para com os outros
feras sem misericórdia:
Quando alguém prosperou, lhe
temos inveja,
e quando alguém caiu, nos alegramos.
Ainda que nossa vida seja muito curta,
Nossas culpas são longas.
3. Tu reduziste as medidas de
nossa vida:
setenta anos quando muito.
Nós, apesar disso, pecamos
muito mais de setenta vezes sete.
Por tua misericórdia é curta a
nossa vida,
para que não se aumentem nossas culpas.
4. Maravilho-me de tua misericórdia,
que reduziu ao silêncio a tua justiça.
Pois, ainda que um homem seja
impuro, sente aversão
pelo impuro que a ele se parece.
Tu, porém, mesmo que seja santo,
não volta atrás ante nossas culpas
5. Maravilha-me também que
tua justiça
não leve a juízo
a tua bondade,
sendo ela a demandante,
sobre como é que teu sol amanhece
também sobre aquele que
provoca tua cólera.
6. Tu nos deste plenitude, sem limite;
nós colocamos faltas, sem medida.
Tu nos ensinaste as boas ações,
o contrário nós temos feito.
Estamos revestidos tão só dos
nomes divinos,
porém estamos desnudos das obras.
7. Nós forçamos a tua justiça
a perseguir-nos;
e logo, quando tínhamos que pagar,
pedíamos que não nos reclamasse a dívida.
Porém, se alguém a nós nos ofendia,
pedíamos a gritos que a justiça se lho tivesse em conta.
8. Contudo, quando um homem
corre até tua justiça
para apresentar uma demanda contra seu devedor,
ela exige em troca, como prenda,
que primeiro alguém pague suas
dívidas,
e depois reivindique as de outro.
9. Porém, se alguém corre até essa mesma justiça
para suplicar perdão,
então ela se apressa a atar-lhe
junto com seu devedor,
e quando ele lhe remiu sua dívida,
também ele será desobrigado
por ela da sua.
10. Nossa astúcia vence,
e também é vencida por tua Justiça:
é vencedora, quando pede
perdão para suas dívidas;
e é vencida, quando vem
a reivindicar, e ela é a reivindicada
(Lecionário Patrístico Dominical, José, Bondan, Fernando)