Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18b; 1Cor 12,12-30 Evangelho: Lc 1,1-4; 4,14-21
Santos Padres:
1. Orígenes (séc. III) Sermão sobre o Evangelho de São Lucas 32,2-6 (SC 87, 386-392)
“Hoje, nesta reunião, fala o Senhor” Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama se estendeu por toda a região. Ensinava nas sinagogas e todos o louvavam. Quando lês: Ensinava nas sinagogas e todos o louvavam, cuida para não julgar ditosos somente a eles, crendo-te privado de doutrina. Porque se é verdade o que está escrito, o Senhor não falava somente naquela ocasião, nas sinagogas dos judeus, mas também hoje, nesta reunião, fala o Senhor. E não somente nesta, mas também em qualquer outra assembleia e em toda a terra ensina Jesus, buscando os meios adequados para transmitir o seu ensinamento. Orai para que também a mim me encontre disposto e apto para engrandecê-lo! Depois foi a Nazaré, onde se tinha criado, entrou na sinagoga, como era seu costume aos sábados, e colocou em pé para fazer a leitura. Entregaram-lhe o livro do Profeta Isaías, e desenrolando-o, encontrou a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu”. Não foi por mera casualidade, mas providência de Deus que, desenrolando o livro, encontra-se o capítulo de Isaías que falava profeticamente dele. Pois se, como está escrito, nem um só pardal cai na armadilha sem que o disponha vosso Pai e, se os cabelos da cabeça dos apóstolos estão todos contados, possivelmente tampouco o fato de encontrar-se precisamente com o livro do Profeta Isaías, e concretamente não com outra passagem, mas com esta, que sobressai o mistério de Cristo: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu – não duvidemos que é o mesmo Cristo quem proclama este texto –, há que pensar que não aconteceu porque realmente tenha sido produto do jogo da causalidade, mas porque ocorreu de acordo com a economia e a providência divina. Terminada a leitura, Jesus, enrolando o livro, o devolveu ao auxiliar e se sentou. Toda a sinagoga tinha os olhos fixos nele. Também agora, nesta sinagoga, nesta assembleia, podeis – se assim o desejais – fixar os olhos no Salvador. Desde o momento em que tu dirijas o mais profundo olhar de teu coração para a Sabedoria, para a Verdade e ao Unigênito de Deus, para mergulhar em sua contemplação, teus olhos estão fixos em Jesus. Ditosa a assembleia, da qual a Escritura testifica que os olhos de «todos estavam fixos nele! O que eu não daria para que esta assembleia merecesse semelhante testemunho, de maneira que os olhos de todos: catecúmenos e fiéis, homens, mulheres e crianças, tivessem os seus olhos fixos em Jesus! E não os olhos do corpo, mas os da alma. De fato, quando os vossos olhos estiverem fixos nele, sua luz e seu olhar farão vossos rostos mais luminosos, e podereis dizer: A luz de tua face nos assinalou, Senhor. A ele corresponde à glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.
2. São Cipriano, bispo e mártir (séc. III) Tratado sobre a unidade da Igreja 1,5-6
“Cristo instrui a Igreja” Principalmente nós que somos bispos e presidimos na Igreja, devemos manter e defender com firmeza esta unidade, em prova da indissolúvel unidade do mesmo episcopado. Ninguém engane com mentiras aos irmãos. Ninguém altere a pureza da fé com uma infiel prevaricação. O episcopado é único, e dele possui por inteiro cada bispo a sua porção. Também a Igreja é una, a qual com prodigiosa fecundidade se propaga e se estende em muitos, assim como são muitos os raios de sol, porém única a luz. São muitos os ramos da árvore, mas um só tronco, uma só raiz; muitos os córregos que se espalham aqui e ali a partir de uma única fonte; mas em meio de tantas correntezas, um o manancial, e a veia mãe. A unidade da luz não comporta que se separe um raio do centro solar; quebra um galho da árvore, já não brotará; corta a comunicação entre a fonte e o arroio, e ele seca imediatamente. Desta forma, a Igreja iluminada pela luz do Senhor esparge seus raios por todo o mundo; porém, uma mesma é a luz que por todas as partes se difunde, e não admite divisão. Ela desdobra os ramos por toda a terra, com grande fecundidade; estende-se ao longo dos rios, com toda liberalidade, e, no entanto é uma na cabeça, uma pela origem, uma só mãe imensamente fecunda. Nascemos todos de seu ventre, somos nutridos com o seu leite e animados com o seu espírito. A Esposa de Cristo não pode ser adúltera, ela é incorruptível e casta. Conhece só uma casa, observa, com delicado pudor, a inviolabilidade de um só leito. É ela que nos guarda para Deus e destina os filhos que tem gerado a um reino imortal. Não chegará a receber as promessas da Igreja quem dela se aparta e se junta com uma adúltera. Não chegará a receber a recompensa de Jesus Cristo o que abandona a Igreja de Jesus Cristo. É um estranho, um profano, um inimigo. Já não pode ter a Deus por Pai quem não reconhece a Igreja por mãe. Se foi possível alguém se salvar fora da arca de Noé, então também se salvará quem estiver fora da Igreja. O Senhor nos alerta e diz: Quem não está comigo está contra mim, quem comigo não recolhe, dissipa. O que rompe a paz e a união de Jesus Cristo, está contra Jesus Cristo; quem recolhe fora da Igreja de Jesus Cristo, dispersa a Igreja do próprio Jesus Cristo. O Senhor disse assim: Eu e o Pai somos um; e do Pai, do Filho e do Espírito Santo está escrito: Estes três são um. Como poderá alguém pensar que esta unidade da Igreja, estabelecida pelo próprio fundamento da unidade divina, e tão conforme com os mistérios celestiais, pode ser rompida e sacrificada ao arbítrio de partidos? Quem não observa esta unidade também não observa a lei de Deus; não observa a fé do Pai e do Filho, nem conserva sua vida, nem sua salvação.
3. São João Damasceno, doutor da Igreja (séc. VIII) Exposição da fé ortodoxa 4,17
“O jardim da Sagrada Escritura” Diz o apóstolo: Muitas vezes e de diversos modos Deus falou outrora por meio dos profetas; mas nestes últimos tempos nos falou por meio do Filho. Por meio do Espírito Santo falaram a lei os profetas, os evangelistas, os apóstolos, os pastores e mestres. Por isso, toda Escritura é inspirada por Deus e útil. É, portanto, coisa bela e salutar investigar as divinas Escrituras. Como uma árvore plantada junto aos cursos d’água, assim a alma regada pela Sagrada Escritura cresce e traz o fruto ao seu tempo; a saber, a fé reta, e está sempre adornada de folhas verdes, isto é, de obras agradáveis a Deus. Pelas santas Escrituras, de fato, somos conduzidos para cumprir ações virtuosas e para a pura contemplação. Nelas encontramos o estímulo para todas as virtudes, e o afastamento de todos os vícios. Por isso, se aprendemos com amor, aprenderemos muito; pois, mediante o empenho, o esforço e a graça de Deus que dá todas as coisas, obtém-se tudo: aquele que pede, recebe; o que procura, encontra; a quem chama, lhe será aberto. Exploremos, portanto, este magnífico jardim da Sagrada Escritura, um jardim que é perfumado, suave, repleto de flores, que alegra os nossos ouvidos com o canto de variadas aves espirituais, plenas de Deus; que toca o nosso coração e o consola quando se encontra triste, o acalma quando se irrita, o enche de eterna alegria; que eleva o nosso pensamento sobre o dorso brilhante e dourado da divina pomba, que com suas asas majestosas nos leva até o Filho unigênito e herdeiro do «Senhor da vinha espiritual, e por meio dele ao Pai das luzes. Porém, não o exploremos desanimados, mas com ardor e constância; não nos cansemos de explorá-lo. Deste modo ele nos será aberto. Se lermos uma vez ou outra uma passagem e não a compreendemos, não desanimemos; pelo contrário, temos de insistir, refletir, interrogar. De fato, está escrito: interroga a teu pai e ele te contará, aos teus anciãos, e eles te dirão. A ciência não é coisa de todos. Vamos à fonte deste jardim para tomar as águas puríssimas e perenes que brotam para a vida eterna. Gozaremos e nos saciaremos, sem saciar-nos, porque sua graça é inesgotável. Se podemos tomar algo de útil também dos profanos, nada nos proíbe; porém, comportemo-nos como expertos cambistas, que recolhem o ouro genuíno e puro, enquanto rejeitam o ouro falso.